Uma visão:
       Na entrevista ao DN que tanta tinta fez        correr, Freitas do Amaral apontou um defeito ao governo em geral e ao        primeiro-ministro em particular: a ausência de uma estratégia de        comunicação adequada para explicar ao país a necessidade das medidas        restritivas. 
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros        acertou numa parte da sua análise - a dificuldade em explicar -, mas errou        redondamente no mais importante: o que os portugueses precisam, realmente,        ver explicado. 
Os reformados, os trabalhadores, os pequenos        empresários podem queixar-se - com razão - que são sempre os mesmos a        pagar as favas. Mas não precisam que lhes expliquem - porque são os        primeiros a senti-lo - que o país está em crise e que só um valente        apertar de cinto nos pode salvar. 
O que os portugueses não        conseguem compreender é que, a par das medidas de austeridade, se lancem        obras faraónicas, de utilidade e rentabilidade difíceis de projectar. É        como se um chefe de família a viver do subsídio de desemprego decidisse        começar agora a construir uma casa maior, porque daqui a meia dúzia de        anos poderá ter mais um filho ou dois
 
É esta a (aparente?)        contradição que os portugueses precisavam ver explicada. E (aparentemente)        têm agora essa explicação. Não directamente, através de uma cuidada acção        pedagógica do governo, mas indirectamente, através da saída de Campos e        Cunha do governo. A conclusão é fácil: o lançamento de obras faraónicas        não faz qualquer sentido para o país, na actual conjuntura - e terá sido        esse o cavalo da batalha perdida pelo independente Campos e Cunha, o que o        terá levado a abandonar o Governo. Do outro lado da barricada, estavam os        que não conseguem pensar no país sem pensar no partido, que precisa de        grandes obras para ganhar votos e garantir financiamentos. 
Claro        que a dependência dos chamados "partidos de poder" das grandes obras        públicas não pode ser explicada por nenhum governo do mundo, porque é        vergonhosa e envolve aspectos de legalidade duvidosa. Mas ao povo, que não        é estúpido e lhe deu uma confortável maioria absoluta, José Sócrates tem        agora a obrigação de explicar outras coisas: que o rumo é traçado pelo        governo, e não pelo partido; que o seu governo representa mesmo, como ele        conseguiu convencer os portugueses, um corte com a história recente da        acção governativa em Portugal; que ele, José Sócrates, é mesmo o homem        certo na hora certa e continua a merecer a confiança que a maioria dos        portugueses nele depositou. Para isto, Sócrates precisa de muito mais que        estratégias de comunicação. Precisa de coerência. 
Paulo        Camacho
       www.sic.pt
 
0 Comments:
Post a Comment
<< Home